(...) era um concreto derretido que possuía essência de promessas, promessas de rigidez para um futuro bifurcado: um lado representava a solidificação e a força dos prédios, o outro a inflexibilidade dos intolerantes. A temperatura é a responsável pela mudança do estado físico das matérias. Temperatura e pressão. Mas é doído demais descobrir que calejar-se era o melhor caminho para a busca de si mesmo – a fortaleza fatalmente almejada, ali ao alcance das mãos, na colisão sublime de temperatura e pressão. Será? Justo ele que nega o tempo todo a beleza de sua arte para que, em contrapartida, o outro a engrandeça em forma de gracejos: “você escreve bem”. Justo ele que já carrega nos ombros juvenis e emborcados o peso de um cansaço íntimo, agora tem de suportar o calor do próprio corpo esguio a transbordar pela pele em forma de lágrimas, mas nunca, nunca derrama-las no mundo através dos olhos. Se for falar dos olhos daquele sujeito, então que jamais sua cor de grama-do-vizinho seja deixada de fora, que jamais a vulgaridade tão doce daquele olhar seja deixada de lado! Aquelas janelas sempre semi-cerradas (ou semi-abertas?) olhava-se mais por dentro, pois quando olhava pra fora vez ou outra confundia-se com as calçadas, ou até com vales profundos e deixava-se cair em terrenos estrangeiros. Ele tinha certeza de que enviaram para protegê-lo um anjo bêbado e irremediavelmente distraído, cuja companhia o arrasta ora para os bares imundos das cidadelas, ora para o buraco sem fim dos livros. Já lhe disseram que não é honesto esconder-se por trás da intelectualidade, mas ele desconhece a beleza existente na exposição da nudez da alma ou de um sentimento verdadeiro. O Eu escancarado através do verbo explícito: foda-se a poesia, foda-se as entrelinhas e o abstrato. O mundo quer suas víceras e seus pêlos totalmente entregues. O mundo quer recusá-lo ou torna-lo herói, pouco importa! Valerá a pena, desde que as nuances e sutilezas sejam verdadeiras, desde que a leveza de sua existência consiga preencher lugares vagos (...)
4 Comments:
Só agora entendi o que você quis dizer com "textos poéticos". Talvez eu tenha entendido também o porque de querer ignorar a poesia. Porque talvez uma pedra embrulhada em um papel crepom bonito tenha sido objeto da sua poesia algum dia e, sob a pressão do que considerava mais belo, tenha sofrido essa mudança de estados. Temperatura alta, pressão dolorida, a alma de um anjo sendo calejada e vertida em lágrimas. Ah, compreendo, os devaneios que foram manchados por alguém que dizia ter a tinta da paixão mas que só queria pintar com as próprias cores e esconder-se atrás de algo que achava ter algum valor. Mas, por favor, essas pedras não são poesia, não atire-as ou acertará a si própria. Desenrole a beleza de uma rosa sobre seus cabelos e exija da poesia o seu verdadeiro perfume. Temperatura pode mudar o estado, mas a essência sempre será a mesma. Estrela da manhã, deixa eu ser fogo e transformar-lhe novamente na úmida sensibilidade que repousa sobre os seus olhos, porque neles um anjo jamais será empurrado do céu.
Obrigado! Bom, escrever tudo bem, agora ler em versos? Deve estar havendo algum conflito de informações porque o motivo de se escrever em versos é justamente o contrário, facilitar a leitura. Os versos devem ter ritmo para que a pessoa pareça cantar enquanto lê. Eles devem ser expostos de forma tal que as palavras desenrolem naturalmente pela boca do leitor. Gosto de textos poéticos também, conhece a Natalia Anson Lima?
gosto de "te" ler,viu?
=*
Ela sempre me impressiona...
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