Sunday, August 16, 2009

(...) era um concreto derretido que possuía essência de promessas, promessas de rigidez para um futuro bifurcado: um lado representava a solidificação e a força dos prédios, o outro a inflexibilidade dos intolerantes. A temperatura é a responsável pela mudança do estado físico das matérias. Temperatura e pressão. Mas é doído demais descobrir que calejar-se era o melhor caminho para a busca de si mesmo – a fortaleza fatalmente almejada, ali ao alcance das mãos, na colisão sublime de temperatura e pressão. Será? Justo ele que nega o tempo todo a beleza de sua arte para que, em contrapartida, o outro a engrandeça em forma de gracejos: “você escreve bem”. Justo ele que já carrega nos ombros juvenis e emborcados o peso de um cansaço íntimo, agora tem de suportar o calor do próprio corpo esguio a transbordar pela pele em forma de lágrimas, mas nunca, nunca derrama-las no mundo através dos olhos. Se for falar dos olhos daquele sujeito, então que jamais sua cor de grama-do-vizinho seja deixada de fora, que jamais a vulgaridade tão doce daquele olhar seja deixada de lado! Aquelas janelas sempre semi-cerradas (ou semi-abertas?) olhava-se mais por dentro, pois quando olhava pra fora vez ou outra confundia-se com as calçadas, ou até com vales profundos e deixava-se cair em terrenos estrangeiros. Ele tinha certeza de que enviaram para protegê-lo um anjo bêbado e irremediavelmente distraído, cuja companhia o arrasta ora para os bares imundos das cidadelas, ora para o buraco sem fim dos livros. Já lhe disseram que não é honesto esconder-se por trás da intelectualidade, mas ele desconhece a beleza existente na exposição da nudez da alma ou de um sentimento verdadeiro. O Eu escancarado através do verbo explícito: foda-se a poesia, foda-se as entrelinhas e o abstrato. O mundo quer suas víceras e seus pêlos totalmente entregues. O mundo quer recusá-lo ou torna-lo herói, pouco importa! Valerá a pena, desde que as nuances e sutilezas sejam verdadeiras, desde que a leveza de sua existência consiga preencher lugares vagos (...)

4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Só agora entendi o que você quis dizer com "textos poéticos". Talvez eu tenha entendido também o porque de querer ignorar a poesia. Porque talvez uma pedra embrulhada em um papel crepom bonito tenha sido objeto da sua poesia algum dia e, sob a pressão do que considerava mais belo, tenha sofrido essa mudança de estados. Temperatura alta, pressão dolorida, a alma de um anjo sendo calejada e vertida em lágrimas. Ah, compreendo, os devaneios que foram manchados por alguém que dizia ter a tinta da paixão mas que só queria pintar com as próprias cores e esconder-se atrás de algo que achava ter algum valor. Mas, por favor, essas pedras não são poesia, não atire-as ou acertará a si própria. Desenrole a beleza de uma rosa sobre seus cabelos e exija da poesia o seu verdadeiro perfume. Temperatura pode mudar o estado, mas a essência sempre será a mesma. Estrela da manhã, deixa eu ser fogo e transformar-lhe novamente na úmida sensibilidade que repousa sobre os seus olhos, porque neles um anjo jamais será empurrado do céu.

7:22 PM  
Anonymous Anonymous said...

Obrigado! Bom, escrever tudo bem, agora ler em versos? Deve estar havendo algum conflito de informações porque o motivo de se escrever em versos é justamente o contrário, facilitar a leitura. Os versos devem ter ritmo para que a pessoa pareça cantar enquanto lê. Eles devem ser expostos de forma tal que as palavras desenrolem naturalmente pela boca do leitor. Gosto de textos poéticos também, conhece a Natalia Anson Lima?

6:33 AM  
Blogger Deborah said...

gosto de "te" ler,viu?

=*

5:16 PM  
Blogger Unknown said...

Ela sempre me impressiona...

12:44 PM  

Post a Comment

<< Home