Pelo telefone a voz dele tocava todo o meu corpo, adentrando-se em minhas células sem pedir licença, deslizando pelo meu íntimo e rebrotando na superfície da pele com a glória dos que voltam. Foi com o coração latejando e as mãos geladas afundadas no peito que esqueci de dizer o quanto sentia saudades. Só nos encontramos quando estamos com a cabeça no mundo da lua, a nossa conexão tão secreta: em qualquer lugar que estivermos basta olharmos a lua e saberemos que estamos olhando para o mesmo lugar. Eu-ele: meu lugar preferido, meu sabor preferido. O que sinto não tem nome, mas já foi confundido com pérolas, já foi confundido com o infinito da música, com o vazio da solidão. Na seqüência abstrata de momentos de minha vida e na riqueza explícita de cada estação eu espero por ele e por todas as rainhas que habitam cada cubículo de sua existência.
Thursday, August 27, 2009
Monday, August 24, 2009
Some women were made
But me, myself?
I like to think that I was created
For a special purpose...
What's more special than you feel me?
But me, myself?
I like to think that I was created
For a special purpose...
What's more special than you feel me?
Sunday, August 16, 2009
(...) era um concreto derretido que possuía essência de promessas, promessas de rigidez para um futuro bifurcado: um lado representava a solidificação e a força dos prédios, o outro a inflexibilidade dos intolerantes. A temperatura é a responsável pela mudança do estado físico das matérias. Temperatura e pressão. Mas é doído demais descobrir que calejar-se era o melhor caminho para a busca de si mesmo – a fortaleza fatalmente almejada, ali ao alcance das mãos, na colisão sublime de temperatura e pressão. Será? Justo ele que nega o tempo todo a beleza de sua arte para que, em contrapartida, o outro a engrandeça em forma de gracejos: “você escreve bem”. Justo ele que já carrega nos ombros juvenis e emborcados o peso de um cansaço íntimo, agora tem de suportar o calor do próprio corpo esguio a transbordar pela pele em forma de lágrimas, mas nunca, nunca derrama-las no mundo através dos olhos. Se for falar dos olhos daquele sujeito, então que jamais sua cor de grama-do-vizinho seja deixada de fora, que jamais a vulgaridade tão doce daquele olhar seja deixada de lado! Aquelas janelas sempre semi-cerradas (ou semi-abertas?) olhava-se mais por dentro, pois quando olhava pra fora vez ou outra confundia-se com as calçadas, ou até com vales profundos e deixava-se cair em terrenos estrangeiros. Ele tinha certeza de que enviaram para protegê-lo um anjo bêbado e irremediavelmente distraído, cuja companhia o arrasta ora para os bares imundos das cidadelas, ora para o buraco sem fim dos livros. Já lhe disseram que não é honesto esconder-se por trás da intelectualidade, mas ele desconhece a beleza existente na exposição da nudez da alma ou de um sentimento verdadeiro. O Eu escancarado através do verbo explícito: foda-se a poesia, foda-se as entrelinhas e o abstrato. O mundo quer suas víceras e seus pêlos totalmente entregues. O mundo quer recusá-lo ou torna-lo herói, pouco importa! Valerá a pena, desde que as nuances e sutilezas sejam verdadeiras, desde que a leveza de sua existência consiga preencher lugares vagos (...)